SEMIVIDA
Não consigo ficar em paz comigo
quando comigo está a tua falta.
Esta ausência presente
tão presente e gritante,
reverberando
um eco sem som,
um silêncio eloquente.
Falta ampla e consistente
que ocupando todo o espaço interno,
não permite a existência de coisa outra,
pensamento ou lembrança,
que possa generosamente,
caridosamente até,
me penetrar,
me preencher.
E esta gravidez de incertezas
tão frutífera em sentir dores,
em contrações – tentativas de transportar-te
para dentro de mim,
num parto às avessas
eterno não nascer e
dolorosamente não morrer.
Morrer.
Mais coerente a viver a não vida,
ter sentidos e não sentir,
fertilizar e não conceber,
amar o ausente, gerar a falta,
parir o espectro,
espectro este que
já sou.