Fado à dor
Suporto-me entre gemidos
olhando a certa dor que me encabula
e, entre a mesma dor que me maltrata,
acho essa outra que também me cura.
Se bebo os versos, sobrevivo
e se os teço, fico eterno
e se os declamo, rezo ou peco
e suporto ainda mais a dor de outros gemidos.
Vem, ó poesia, morar em meu peito,
massageando o coração já maltratado
e diz a ela que aqui comigo mora um pecado:
o de não tê-la ainda esquecido por completo.
Mas suporto assim qualquer gemido
e, se dói demais qualquer dor desgovernada,
faço um verso,
rezo uma prece,
canto um fado!