guerreira contemporânea
estrada morta
sem água
de
chão rachado
sulcos sem sementes
semeam a sede e a fome
e se colhe desespero.
estrada morta
em suas margens
jazem cruzes,
onde
dormem mortos
esquecidos e
atropelados pela
dinâmica do mundo
estrada morta
o vento sibila
mantras angustiantes
e ao farfalhar
dos arbustos
confessa-se herege.
eu ando sozinha
nessa estrada morta
sem medo, sem tréguas
ouvindo os segredos
dos passarinhos,
contando os passos
em direção
ao incerto
bússolas não servirão
para me orientar ,
estrelas não
me dirão aonde estou
certezas nada me darão
nem âncoras
e nem naufágios.
eu ando sozinha
norteada pelo infinito
pelos sóis que queimam
ao final da tarde
pelas luas gélidas e alvas
inatingíveis
a servir de cenário
para São Jorge
sou guerreira contemporânea
uso tecnologia e intuição
uso astrologia e exatidão
das máquinas, dos
termômetros,
das palavras
que medem a estória
que medem os homens
e que mentem.
sou guerreira numa estrada
morta e
levando a vida finita
por infinitas formas.