RUDE SOLIDÃO
Vida! Que farsa me ronda!
No mar, que louco escarcéu!
Que doida fúria me sonda
Em raios que vêm do céu?
Pelos percalços da Terra
Ruge no pico da serra.
Parte o chão na grande China,
Aterroriza o Ceará,
Tanto abalo que alucina
Coisa mais triste não há.
Que nuvens negras estranhas
Afundam pelas entranhas,
Esconde astros na amplidão?
E enquanto estronda o trovão
Grita a hiena nas montanhas
E desaba a escuridão.
É noite... O céu escurece;
O nauta faz sua prece
No abismo de ondas no mar.
O céu chora um triste pranto
Pranto de chuva a alagar
Os sítios do campo santo.
Eu que no peito ainda guardo
Um coração – triste bardo! –
Como um pêndulo bisonho.
Na escuridão dos meus dias
Não consigo nem em sonho
O carrossel de heresias
Esquecer... Rito medonho!
Ó vida, esquece a razão...
Muda o mundo ou mudo eu.
O tribunal tão plebeu
Condenou-me sem perdão.
Sou inocente... E sou réu
Sem cometer uma ação
Condenada pelo céu!
Ó astro-rei, ó lindo sol,
Escurece tua luz
Mostra a verdade de escol.
Manda o frio e a escuridão,
Ensina aos sem coração
Que a injustiça é negra cruz...
Que injustiçou o Messias
Injustiçou os meus dias...
Na mais rude solidão!...