Carta aos Filhos da Exploração Colonial (Povo Brasileiro) 19 de Abril de 2025 — Dia do Índio (ou: Como Queimar Judas em 526 Prestações)
Minha terra tinha índios (minha não, a terra deles.(sou negro), e quase tudo se perdeu na chegada do ‘homem’—meu pajé se converteu, e por motivo de força maior (digamos, bruta…) já não conversa com os elementos. A palavra que ele diz, como arauto dos desbravadores, avista a terra, e tudo pode ser parcelado em infindas vezes—até seu sangue regar o solo, e sua carne saciar os ‘desejos necessários’ dos marujos… se é que me entende? O desembarque dos ratos foi um ‘mal necessário’ para a ‘evolução’ do Brasil—imagina! Hoje, o índio joga bola, bebe pinga, e sabe o valor que o ouro tem… tem até cacique garimpando, usurpando Tekohá—o que era direito do primogênito. Aqui já existiam suas ocas, mas hoje, Guaraci já não brilha para todos no Araçá… não para os que herdarão essa herança maldita do ‘descobrimento
"Poema aos Guarani-Kaiowá's que habitam em Cari-ocas."
O meu pajé virou Judas.
Não o traidor do evangelho —
mas o bode expiatório do progresso.
Enforcado simbolicamente em postes de garimpo,
linchado por grileiros,
e apedrejado por políticos em caravana eleitoral.
"a bancada da bala e do boi assina a sentença"
"Suzano, JBS, Vale" cantam em júbilo evangelical:
Para nossa alegria..."
"Salve o Dia do Índio!" — gritam nas escolas,
enquanto no Mato Grosso do Sul,
um homem Guarani-Kaiowá é amarrado em um tronco
e queimado como efígie de um crime que não cometeu.
Enquanto Judas arde,
o garimpo escreve seu evangelho de mercúrio...
O Novo Ritual de Páscoa:
Os garimpeiros pintam o rosto de vermelho —
não de urucum, mas de sangue Yanomami.
E no Sábado de Aleluia,
em vez de um boneco de palha,
eles penduram uma criança indígena na conta do
"desenvolvimento".
Judas foi enforcado uma vez.
O índio é linchado todo dia.
"A pergunta que não se cala" ( ou "que não quer calar"):
19 de abril:
Dia de "fantasiar" crianças com penas no colégio?
—Enquanto no Congresso das M'Boi
que o povo é coibido a alimentar com impostos,
a PEC da morte (291/2023) rasga Tekohá
ao som de aplausos e cifras do Agropop.
"Enquanto" o Brasil posta:
#Ogulhoindígena no instagram nesta manhã verde oliva
"Um Kaiwá é atropelado por caminhão de soja"
—e hashtag vira lápide digital"
"Quantos faltam para o próximo?""
"Mas o que Índio quer é apito?
Não —é o silencio dos foliões ao ouvirem
o estrondo da terra devorando seus donos."
Ironia Sutil
(eu que o diga! Sou Retinto...)
"Oh, glória! O Brasil é cristão!"
— mas o céu só tem lugar para os brancos.
Os santos são todos europeus,
Epílo: A caneta e o sangue (Genocídio em oferta)
Enquanto Judas queima no Sábado de Aleluia,
o Brasil mata Yanomami em prestação—
570 crianças viraram números no relatório do garimpo.
Progresso? É só um novo nome para o mesmo massacre.
Marandu!
O mercúrio envenena o rio, o branco assina papel,
e o curumim vira notícia de jornal—
"Mais um corpo encontrado na terra sem dono".
Mas Tupã olha e cala.
Kaiowá não chora mais, só resiste.
E um dia, a terra vai cuspir de volta os donos do mundo.
Eo índio, agora com as mãos sujas de barro e ouro, pega
a caneta que nunca lhe foi oferecida
— apenas empunhada contra ele. Escreve, não com tinta,
mas com o vermelho que escorre da terra rachada:
Vocês disseram que éramos selvagens.
Que éramos folhas secas no vento da "civilização".
Mas quem rasgou o céu de Guaraci para vender em pedaços?
Quem transformou Tekohá em cifra,
enquanto nossos mortos viram números
nos livros de história que nunca lemos?
A caneta dos desbravadores mentiu.
Inventou perdão onde houve massacre,
progresso onde houve fome de ouro,
e nos deu de presente a própria algema
— agora dita por nossas próprias vozes.
Mas hoje a tinta é nossa.
E ela não secará
enquanto o sol não nascer
para todos os que foram apagados
no rascunho da sua evolução.
P.S.:
"Feliz Dia do Índio.
Aproveite —antes que virem estátua, e seu sangue, tinta de museu."
(Aproveite enquanto eles ainda existem.)
"Porque o amanhã 'Deus' dará
(antes que no futuro vejamos o Boi de Pena)
— e o gado "vestirá nossas"peles como fantasia de domingo"