Manual de instruções
(que meu coração nunca leu)
Eu disse: não crie expectativas. Fui firme, com argumentos bons, terapia em dia e uma lista bem organizada de traumas como prova. Mas ele, o coração, não quis saber. Vai lá, todo confiante, acreditando em “bom dia” como se fosse convite pra um "para sempre". Se apega em vírgulas, interpreta emojis como se fossem declarações, monta trilogias com meia cena e um olhar distraído.
Não me ouve. Ignora os avisos, os sinais — neon, piscando, com sirene e tudo. Me ignora, como se fosse um hóspede rebelde, que alugou meu peito e decidiu que manda ali. Vai criando roteiro próprio, escrevendo finais felizes em cima de páginas em branco, como se bastasse vontade.
Depois chora, claro. Sempre sobra pra mim. A alma tenta juntar os cacos, os olhos seguram a onda, o corpo segue. Mas ele ainda insiste em voltar pra cena, teimando em acreditar.
Eu repito: não crie expectativas!
Mas talvez... talvez seja justamente isso que o mantém pulsando, essa fé bonita e cruel de que alguém, um dia, venha, sem prometer.
E fique.