AMANHÃ

O futuro não é nada mais do que outros "hojes" e, quando a gente chega lá, percebe que deixou mais "ontens" para trás do que há "amanhãs" pela frente.

Amanhã é tela em branco,

segredo ainda não escrito —

vento que desperta o peito,

mas apaga o que foi dito.

É promessa sem destino,

súbito raio de sol

que ilumina um caminho,

mas não diz se é fim ou farol.

Trago esperanças no bolso,

medos presos no cordão.

O tempo, mestre absurdo,

tece risos e canção.

Quero crer na madrugada,

na semente que não brota,

na calma que inquieta,

na dúvida que devota.

Amanhã é rio que corre

e afoga o que ficou:

lembranças viram escorrego,

o que sonhei se esfacelou.

Mas na margem do imprevisto,

flores nascem do vazio —

o ontem já foi conquista,

o agora é desafio.

Será que o sol de amanhã

vai aquecer meu abrigo

ou virará tempestade

que desmancha o que eu consigo?

A vida é verso sem métrica,

rima que o acaso inventa.

Amanhã é só miragem

que hoje vira tentativa lenta.

E quando ele enfim chegar,

já não é mais quem eu era:

o futuro é um espelho

que reflete a face inteira

de quem soube, mesmo em pranto,

semear no chão incerto —

pois o amanhã mais perfeito

é o hoje já descoberto.

J Starkaiser
Enviado por J Starkaiser em 03/04/2025
Reeditado em 04/04/2025
Código do texto: T8300736
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