Quando a Alma era um Lugar
O amor que foi tão meu,
já não me quer, eu sei.
O peito dói, é cru,
mas sigo em frente, rei.
A vida em mim caiu,
desmoronou sem par.
O pânico surgiu,
sem tempo pra avisar.
O coração aflito,
a dor a me engolir.
Será que há um grito
que possa me ferir?
Café frio na mesa,
mastigo a solidão.
A praia, a natureza,
só aumentam a aflição.
O quiosque vazio agora,
outros amantes lá.
A onda que devora
o que eu não vou gritar.
Revejo o nosso ontem,
imagens a rodar.
Será que alguém mantém
o amor sem se quebrar?
Dizem que a dor é breve,
que o sofrer é opção.
Mas como é que se deve
aplaca o coração?
Dignidade? Talvez...
Mas dói no mesmo chão.
O que o tempo não refaz,
a saudade dá em vão.
Será que um dia, enfim,
a paz vai me alcançar?
Ou esse amor é só um fim
que insiste em não passar?
Mas se a vida me ensinou,
—mesmo a dor a me moldar—
que o amor que se perdeu
me fez também amar.
E assim, na dor que fica,
na alma que ainda arde,
fica a luz que me aplica
o amor que não se parte.
Teu amor foi sol, depois lua,
rasgou-me em luz e noite crua...
— Morro e renasço em tua rua.
Teu nome é um mar que seco,
mas ainda molha o peito.
A saudade é um segredo
que o tempo escreve em silêncio.
Foi amor, foi dor, foi vida,
agora é só despedida.
Mas no peito, gratidão:
foi meu norte, meu verão.
E o adeus? Só canção.