UM ENCONTRO NO TEMPO
A lembrança do amor deixado para trás, presente na saudade da alma, dizendo para onde ela quer voltar.
A saudade é um fio de prata fincado no peito,
um lugar antigo onde o amor ficou quieto.
Não se apaga, não se vence — apenas existe,
como a lua que insiste, mesmo quando não se vê.
Ah, o arrependimento! — doce e amargo fruto,
que às vezes me alimenta, às vezes me envenena.
E eu, tolo, rego a semente do que já foi seco,
enquanto o presente vira vento e me leva.
Quantas noites eu busquei, no fundo do copo,
o gosto do teu riso, o sal do teu abraço.
Era sempre mentira: o vinho só doía,
mas a dor era minha, e eu não largava o traço.
Há músicas que doem como um nome esquecido,
há cheiros que desenterram o que foi vivido.
E o coração, traiçoeiro, sussurra baixinho:
"E se a gente tentasse de novo esse caminho?"
Mas o tempo é um rio — não volta, não espera.
E o que fica é o brilho daquela primavera.
Nem melhor, nem pior... só diferente, só ausente.
Um amor que foi tanto que dói na corrente.
E assim sigo, carregando o que não tem conserto:
o teu eco no meu verso, o meu pranto no teu certo.
Porque o amor, quando é grande, não cabe no peito —
vira arte, vira espelho, vira o silêncio perfeito.
Talvez um dia a saudade perca sua asa,
e eu olhe para trás sem pedir outra morada.
Até lá, sou poeta da pena do coração —
escrevendo a dor com tinta de gratidão.