UMA CICATRIZ
Passando roupa, distraída,
o ferro quente tocou minha pele.
Não doeu no instante — a pressa era maior.
Segui meu caminho, urgente,
e só ao chegar, notei:
ali, no braço, a marca ardente,
visível, mas ainda sem dor.
Na corrida frenética, não parei.
O ferimento era pequeno,
as urgências, imensas.
No ímpeto de resolver o mundo,
quebrei o coração sem perceber.
Mas não importava —
havia coisas mais urgentes que minha própria dor.
Hoje olho meu braço,
a cicatriz está ali, serena.
Curada.
Mas meu coração ainda sangra.
E então reflito:
quantas dores deixamos dentro,
quantas marcas ignoramos?
Algumas, com o tempo, secam,
e delas brotam flores,
lembranças suaves do que já fomos.