UMA CICATRIZ

Passando roupa, distraída,

o ferro quente tocou minha pele.

Não doeu no instante — a pressa era maior.

Segui meu caminho, urgente,

e só ao chegar, notei:

ali, no braço, a marca ardente,

visível, mas ainda sem dor.

Na corrida frenética, não parei.

O ferimento era pequeno,

as urgências, imensas.

No ímpeto de resolver o mundo,

quebrei o coração sem perceber.

Mas não importava —

havia coisas mais urgentes que minha própria dor.

Hoje olho meu braço,

a cicatriz está ali, serena.

Curada.

Mas meu coração ainda sangra.

E então reflito:

quantas dores deixamos dentro,

quantas marcas ignoramos?

Algumas, com o tempo, secam,

e delas brotam flores,

lembranças suaves do que já fomos.

Emanuele Amaral Ponciano
Enviado por Emanuele Amaral Ponciano em 30/03/2025
Código do texto: T8297683
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.