A vida na Existência
Mãos que traçam o tempo, frágeis, breves,
Palavras que voam, sombras de um véu...
O coração sangra em versos leves,
Mas a pena escreve o luto do céu.
No princípio, o riso, a luz deslumbrada,
Infância em flor, tão doce ilusão...
Depois, a estrada, a marcha cansada,
O peso dos pés na própria amplidão.
Ah, presente! Que espelho quebrado,
Reflete o que foi, o que já não é.
Cada instante, um sonho esvaído,
Cada passo, um laço que se desfaz ao pé.
E o futuro? Um mudo, um não-dito,
Um abismo escuro, um eco sem chão.
Passado... saudade que arde e grita,
Cinza de um fogo que outrora era pão.
O agora se esvai, e a vida se esquiva,
Como areia nos dedos, que o vento levou...
E o depois? Sussurro na bruma,
Nada se sabe, só o medo ficou.
Caminha-se, pois, na senda incerta,
Rasgando a névoa com mãos a tremer.
Se o fim é a noite, a escuridão aberta,
Que ao menos o verso possa vencer—
Não a morte, não o olvido cru,
Mas a frieza do eterno vazio...
Que a voz ecoe onde o ser já não está,
E o amor, último refúgio, siga consigo,
Mesmo que o tempo apague a história,
Que a morte cubra de silêncio e pó,
*As palavras, feitas de memória,*
Hão de florir onde o ser já não é . Só pó.