Um canto entre o alvor e o crepúsculo
Mocidade — flor do primeiro dia,
Pétalas ao vento, sonhos a cantar,
Pés descalços na estrada da alegria,
Sem saber que o tempo é um rio a rolar.
O mundo é um verso, a vida, uma poesia,
E o coração, um barco a navegar...
Mas no teu peito, oh! jovem temerário,
Jaz um segredo antigo e solitário.
Ah! Juventude, doce desatino,
Teus olhos brilham como astros no mar,
Teus passos são leves, teu riso, divino,
Pois ainda não aprendes a chorar.
Mas eis que a sombra do teu destino
Começa em teus cabelos a assomar...
E o vento traz, num murmúrio precário,
O eco de um suspiro visionário.
Vida adulta — agora és dono da chama,
Teus braços forjam o que hás de colher,
Mas no teu peito, a dúvida te ama,
E os sonhos já não querem florescer.
Oh! Quantas noites de silêncio e drama,
Quantos amores que não puderam ser...
E no teu olhar, antes tão lúcido,
Brilha um cansaço triste, sem aviso,
sem saber.
Velhice — agora és só memória e espelho,
Teus dias são folhas no chão a dançar,
Teus ossos falam do longo desvelo,
Teus joelhos já não querem dobrar.
Oh! Quantos erros num só conselho,
Quantas palavras que não soube amar...
E o tempo, esse ladrão silente,
Roubou-te a luz e deixou-te a semente.
Mas ouve, ancião, de prata a cabeça:
Teus passos, outrora leves como a brisa,
São agora a marca que a estrada aqueça,
A sabedoria que a alma precisa.
Se a mocidade foi doce beleza,
A velhice é a raiz mais precisa —
Pois só quem sabe o peso da jornada
Entende a luz da tarde dourada.
E assim, entre o alvor e o ocaso,
Vai a dança da vida a girar:
Um é o riso, o outro, o cansaço,
Um é o sonho, o outro, o lembrar.
Mas em ambos, num último abraço,
Há um laço que não se pode quebrar —
Pois mocidade e velhice, enfim,
São dois versos do mesmo poema sem fim.