O saber e o espanto
Quando somos jovens, buscando entender o mundo da realidade e situar nossa condição como seres conscientes nesse universo,
nossa imaginação, que envolve a magia, o mito, os contos e a história, nos ajuda a entender o mundo, e é um elemento fundamental em nossa vida que nos leva a ressignificar nossa identidade.
É possível que, sob a superfície comum do espaço e do tempo, regida pela ciência das verdades universais do homem que transforma nossa compreensão subjetiva, exista um arbítrio que une de maneira súbita e efêmera todos os elementos e fenômenos, caracterizando nossa imaginação como uma unidade de percepção.
A humanidade existe na exclusividade de seu mundo sem dominar o que é bom nem conhecer a verdade, salvo pela sua intuição em desnudar o que é belo, que a leva ao que é bom e ao verdadeiro.
O mundo-menino
era rio sem fim,
pisávamos milagres
com pés de jardim.
A tarde, dourada,
tecia seu mel,
a noite guardava
segredo no céu.
Vieram as medidas,
os números certos,
a fria conta exata
dos tempos desertos.
Quisemos fechar
o mistério em mãos,
ele escorreu leve
como água entre vãos.
Ó ciência linda
que esticas o olhar,
por que o infinito
quiseste enjaular?
Dás nome aos cometas,
às leis do universo,
mas calas diante
do nosso reverso.
Desvendas o mundo
peça por peça,
mostras a engrenagem
que nunca cessa.
Mas quando a alma
perguntar por si,
só ecoa o silêncio
no fundo de ti.
Mais luz que se acende
no abismo profundo,
mais sombra se alonga
no chão do mundo.
Cada resposta
que a mente alcança
abre novas noites
na frágil esperança.
Talvez não exista
nem fim nem receita,
saber será sempre
canção imperfeita.
A única verdade
que o tempo nos traz:
o eterno se canta
mas não se desfaz.
E assim caminhamos
com pés de poeta,
nem sábios nem loucos -
apenas, pessoas inquietas.
Levamos na mão
lanterna e espanto,
tecendo no escuro
o nosso próprio canto.