A vida em versos
A vida é um sopro que a morte desfia,
um fio tão tênue que o vento o leva, desvia.
Chegamos sem nada, sem rumo ou guia,
e a alma, sedenta, no escuro navega.
Nascer é um grito no peito da noite,
viver é um verso que o tempo corrói.
Alguns dias são luz, outros desgoverno,
e a sorte, capricha, ora dá, ora dói.
Há risos que queimam como fogo brando,
há lágrimas frias que escorrem sem par.
Há sonhos que morrem antes de despertar,
há amores que ficam só pra nos matar.
Ah, vida! Mistério que a dor decifra,
teu nome se escreve com tinta de mar.
Pode ser um instante, podem-se anos,
o que importa é o amor que soubemos guardar:
o toque fugaz de uma mão na janela,
o eco de um nome que não quer calar.
E no fim?
Só resta o silêncio,
o relógio parado,
o verso que o vento apagou.
Fui eu quem deixei
os dias caírem como folhas mortas,
sem lhes dar voz, sem lhes dar sorte, sem lhes dar cor.
Agora é só cinza.
O tempo é um muro.
E a vida?
Foi só um suspiro:
uma estrofe
— nem canto, nem lamento —
entre o primeiro alento
e o último momento.