O ENGANO DA BELEZA
A beleza brilha, seduz, reluz,
abre caminhos num falso esplendor.
Parece um véu de ouro e de luz,
mas trama ciladas sob o ardor.
Engana os sábios, confunde os ingênuos,
promete glórias que são vãs.
Pinta ilusões, veste desígnios,
mas oculta enganos por entre as mãos.
Nos olhos dos fracos se faz clarão,
torce desejos, distorce a essência.
Molda aparências, cria a visão,
tece mentiras com paciência.
O belo parece tão puro e justo,
o feio se torna um erro cruel.
Quem dita o certo, num jogo injusto,
é o mundo ingrato, de olhar infiel.
A beleza ofusca, reveste a trama,
faz do vazio um brilho profundo.
Veste a verdade com seda e fama,
torna a aparência a lei do mundo.
E assim a essência se desfaz,
perdida em traços moldados em vão.
Pois a beleza sabe demais
e engana até a própria razão.