REFLEXO

Olhei para mim esta manhã,

de verdade, como há muito não fazia.

O espelho me devolveu um rosto moldado pelo tempo,

com marcas que não pedi,

mas que a vida esculpiu sem hesitar.

O olhar ainda era o mesmo,

sereno, indagador,

como se esperasse respostas

que nunca chegam.

Os traços familiares,

a boca que tanto sorriu,

o cabelo que permaneceu fiel ao seu curso,

e, no entanto, algo ali parecia distante,

como se o reflexo fosse apenas um disfarce

para o que eu não queria ver.

Ao me afastar do espelho,

sentei-me na cama e encarei o invisível.

Dentro de mim, o tempo se escondia,

intocado, imóvel,

abrigando desejos antigos,

defeitos expostos,

frustrações silenciosas.

Sou um homem inacabado,

prisioneiro de máscaras

que sustento sem perceber.

O corpo segue adiante,

mas o espírito hesita,

preso a ilusões frágeis.

Antes que o exterior se desfaça em pó,

preciso vencer a batalha interior,

despir as sombras,

reconhecer-me,

renascer.

Tião Neiva

TIÃO NEIVA
Enviado por TIÃO NEIVA em 26/03/2025
Código do texto: T8294615
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