Pária do Mundo - POEMA

Que me chamem de pária, azar o deles,

Eu já fiz check-in no inferno umas três vezes.

Fiz do silêncio minha amiga oficial,

da solidão, meu plano especial.

O amor? Tava em estoque, mas esgotou.

A amizade? Tentei trocar, mas ninguém aceitou.

Agora, só aceito companhia da minha sombra,

porque pelo menos ela não some sem dar resposta.

O vazio me treinou, me deu doutorado,

enquanto outros surtavam e voltavam pro trabalho.

A solidão é um luxo que poucos bancam,

quem aguenta, já não precisa de carta branca.

Não me olhe com pena, nem com sermão,

não sou coitado, sou só a exceção.

Sou o que sobra quando tudo se ferra,

o último sobrevivente desse jogo de guerra.

E se me julgam por estar "sozinho assim",

é porque jamais suportariam ser um de mim.

Pois quem já caiu no abismo sem fundo,

volta imune e rindo do mundo.

Nota do autor:

Infelizmente, um homem que atravessou a solidão e sobreviveu já não deseja mais nada. Amores não o seduzem, amizades não o prendem, e a única companhia que suporta é a da própria alma.

Chamam-no de pária, mas não compreendem o que significa fazer do silêncio um lar. Dizem que ele se perdeu, mas na verdade, apenas encontrou o que poucos suportariam: o peso do vazio, o abraço cruel do nada.

A verdade que poucos ousam encarar é simples: quem suporta a solidão já conheceu o inferno. Já caminhou pelo caos mais absoluto, onde o desespero devora até os fortes e o tempo se arrasta como uma lâmina cega. Mas, com a última centelha de suas forças, ele sobreviveu. E, ao sobreviver, tornou-se algo além da dor, além da necessidade... além de todos e todas as classes.