O Boto e o Rio Perdido

Este poema, embora retrate um futuro sombrio, é um chamado à ação. Ele transforma a indignação em luta, alertando para o que pode acontecer, mas também mostrando que ainda há tempo para mudar o destino do Rio Tramandaí. É um apelo para que a sociedade se mobilize e evite que essa tragédia se concretize.

O boto, cansado, parou na correnteza.

Desistiu de subir o rio das águas turvas,

Onde o brilho do sol se fez opaco,

Nas manchas de esgoto nas margens curvas.

Minhas redes se arrastam sem esperança,

E a luta cede às águas poluídas.

O Tramandaí poderá ser só lembrança,

Levando o sustento, o prazer e as lidas.

O turista chegará ao rio, olhar fascinado,

Mas logo o odor fétido lhe invade.

O Tramandaí, antes sagrado e amado,

Poderá ser o triste cenário de duas cidades.

Para o comércio, a tristeza e o vazio,

O turista chega, mas logo vai embora.

Verão se aproxima, e sem o rio,

Perdem os humanos, a fauna e a flora.

Tudo isso ainda não é realidade.

Há caminhos para parar o agouro.

Seja clamando por responsabilidade,

Seja lutando e moldando o futuro.

Chamem turistas, surfistas e afins,

Chamem moradores e comerciantes.

Políticos, associações, autoridades, enfim,

Precisamos de todos para ir adiante.

Aqui temos pescadores artesanais,

Ribeirinhos e marisqueiros.

Nas comunidades de trabalhadores,

A prioridade é a vida, não o dinheiro.

Mas a luta começa antes da ferida,

Na voz do povo que insiste e reclama,

Para que o esgoto de Capão, sem medida,

Não finde no rio Tramandaí que ainda clama.

Roni Martins (www.realronimartins.com.br)