É preciso olhar a vida

É preciso olhar a vida,

Pois a morte está logo ali,

Em cada esquina, declive, sombreado,

Enquanto os minutos se esvaem,

Ligeiros e despretensiosamente,

Os fios dos cabelos perdem a cor,

As paisagens se tornam opacas,

Os sons bem mais distantes,

Abafados como sussurros,

Tudo é apenas um sopro,

Na fragilidade do tempo,

É preciso olhar a vida,

Dar sentido ao que reverbera,

Intensidade, profundidade, coesão,

Sorrir nas pequenas brevidades,

Entoar suaves canções interiores,

Que ditam os ritmos de cada passo,

Na trilha de muitos caminhos,

Pelos quais nos perdemos,

E nos reencontramos serenos,

É preciso olhar a vida,

Para que a finitude não nos subjugue,

O final da linha pode ser um nó sem ponta,

E com isso aprendermos a continuar,

Na energia de almas que seguem livres,

Enquanto os corpos fazem a passagem,

Perecíveis e insuficientes que são,

Cumprem seu papel para se dissolver,

Na água salgada do oceano de contos,

Com histórias diversas de existências mil,

Atravessadas por afetos, lógicas e imaginação...