DUPLICIDADE
A FALA ESCONDE O HOMEM
A fala esconde o homem,
Máscara de ilusão,
No peito ecoa o lamento,
Na boca, só a razão.
Sorriso de alva pureza,
Olhar que não se revela,
Na sombra da certeza,
A alma se desvela.
Dois rios num mesmo leito,
Águas que não se misturam,
Segredos no peito estreito,
Que as palavras não murmuram.
Veste-se de luz e brilho,
Mas guarda a noite consigo,
No jogo do seu trilho,
É estrangeiro e amigo.
Duplicidade, enigma eterno,
Dois lados de um espelho,
No silêncio do inverno,
Revela-se o seu desvelo.
A fala esconde o homem,
Mas a alma não se cala,
No fim, quem é, então?
A sombra ou a fala?