AO LEITOR

AO LEITOR

Ao leitor

Que nasceu

Antes do escritor

Que esteve no banco escolar

A estudar

A brigar

Com físicas e matemáticas

E quantas surras lavava

Parecidas com chicotadas

Ou chibatadas

Das línguas

E suas gramáticas

E mesmo assim

A escola não abandonava

A essa insistência

Quase obstinada

Que mesmo quando achava

Que aprendia para nada

E não a largava

E que depois que achou

Nas revistas

Nos cinemas

E nos livros

Algum alívio

E que passou a frequentar

Mais assiduamente bibliotecas

Cinemas

Museus

E espaços culturais

Sebos, livrarias e tudo o mais

Que hoje desagua

Nessa escrita

Que não para

Ainda que o para sem acento

Seja uma parada

Da braba

A esse primeiro ilustre leitor

Eu mesmo, sim senhor

Bem abaixo do valor

Que dou ao dom

Recebido do Senhor

Tenho de dar o crédito

Por favor

Ele tem lá seu valor

Sem o amor

Por tudo o que o formou

Não brotaria

Esse escritor

Que segundo

O melhor juízo

Desses consultados

Por aí

Em documentários

E também em livros

Nem era para ter existido

Porque o primeiro livro publicado

Já foi tarde

Isso é fato

E escrever assim

De forma desenfreada

Não é coisa lá de gente normal

E partir para fazer rima

Só se for para piorar mais ainda

Então com satisfação

Mesmo que não seja o ganha pão

A esse ilustre primeiro leitor

Deixo esses versos

E nem por isso

Deixo de dar

O devido valor

Ao ilustre leitor

Que é você

Que me acompanha

Que já leu

Nem que seja

Um único poema meu

Uma página que seja

Porque tudo que fica

Registrado

Como tendo sido

Lido ou pedido

Já me deixa grato

Porque mostra

Que não foi em vão

Tudo o que faço

Porque o que escrevo

Pode até ter preço

Mas o apreço

Por poder

Despertar

Essa vontade que há

Em fazer

Outro ler

Isso quero ver

Alguém conseguir

Precificar

Ou explicar

Porque seria

Como alguém querer pegar

A felicidade

Que vem de lá

Do coração

E também

Dar algum valor

A tudo que não tem valor

Faça-me o favor

Porque aquilo

Que nasce

Com essa verdade

Que está além das vaidades

Não pode estar atrelada

A essa coisa tão somente

De despertar

Em todas as gentes

O quanto já ganhou?

Como se para eacrever

Ou viver

Tivesse de ter valor

Se o valor

Vem antes do amor

Que horror

Então nada se faz

O melhor seria ir querer ficar

Logo na cama

E tentar

Só tentar

Descansar

Sem descanso

Com a paz a fugir

Para todos os cantos

E a agonia

Ir brotando

Como as ervas daninhas

Que brotam no quintal

Quando não tem quem cuida

Fica mal

Assim seria

Se pensasse

Que escrever

Teria de vir

Atrelado

Ao dinheiro ganhado

Esse escrever

Desenfreado

Com amor

Por todos os lados

Logo seria brecado

Depois de parado

Estagnado

Morto

E talvez

Nem enterrado

E pior seria ver

E lembrar

E de tudo o que

Poderia dali brotar

Se tivesse não me deixado levar

Por essas vãs palavras

Que só fazem querer

Precificar

Aquilo que foi dado de lá

Do alto

Não brota nem do chão de barro

E menos ainda do asfalto

Nos transportes lotados

Sacudindo para todos os lados

É o que trás o colorido

E faz cada dia

Todos os dias

Algo inesperado

Que me faz amar

Mais a vida

A família

E o próprio trabalho

E cismam que só teria serventia

Se ficasse rico

Como se vê

Em cada vídeo ali na esquina

Como se vender livros

Fosse agora a coisa mais banal

Fácil como vender água e sal

Nem se viesse de brinde

Mingal

Então para não passar

Mal

Melhor é me levantar

Essa poesia assim

Findar

E ir embora tomar café

E trabalhar

Que os galos

Já estão a cantar

Com a aurora

Que vem de lá

E se o ônibus não pegar

Acabo por

Me ferrar

Bora trabalhar

Porque o dinheiro só

Do transporte

Já não cai do céu

Mas daquilo que se escreve

Tem de chegar

Mais fácil

Que o ar

Só Jesus

Para eu me manter

Educado

Todas às vezes

Que sou questionado

Como se para eacrever

Só tivesse valor

Se eu estivesse ganhando

Nem sei se algum

Muitos

Ou qual seja o valor

Se fico só assim

Mais amando

Mais amado

Mais feliz

E mais grato

Com mais satisfação

Pela vida que não escorre

Em vão

Então já não serve não

Melhor partir para ironia

E dizer que já fiquei

Rico

Mas que o dinheiro

Está guardado

Dentro do armário

E continuo na beira

Da estrada

Porque amo

As lotadas

Principalmente

Quando não tem vaga

E se tem de esperar

Pelo que vem de lá

Sem nem saber quanto tempo mais

Se esperará

E, claro

Tem de pagar

Para ir daqui pra lá

E de lá pra cá

Renato Lannes Chagas

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Renato Lannes Chagas
Enviado por Renato Lannes Chagas em 08/01/2025
Código do texto: T8236259
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