Falta

Falta em mim o freio do comboio.

Anteceder a alma ao espírito,

viajar ao extremo íntimo do ser,

ceifar as minhas asas

e cair diretamente à gênese

da existência.

Falta dissecar a minha sombra.

Ritualizar suas entranhas,

conhecer os mistérios

mais claros, e nunca mais orar

ao ressentimento de sangue:

a ímpia consciência.

Falta sepultar destroços do ego.

Conhecer-se para a morte;

cada fragmento é expurgo

do exagero, da carência,

do lamento que torna vulto

a carne desenfreada.

Travo batalhas reprimidas.

Lágrimas de mármores partem,

do horizonte a chuva cai;

tenho no meu coração

a dor de espasmos duros

que o lume da Lua ausenta.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 25/12/2024
Código do texto: T8226958
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.