É por si só
A calçada era gelada,
Tu andavas descalça e fria.
Reconhecias a jornada,
Caminhando em melancolia.
O vento batia em teu rosto,
E tua alma, exposta, tremia.
As memórias do passado
Te deixavam machucada.
Entre as folhas verdes que caíam,
As gotas d’água reluziam.
Aquele domingo tão vazio
Eram só ecos de maio.
Com o tempo, aprendeste a dançar
Sozinha, ao ritmo da brisa,
E aos poucos, foste a lidar
Com a sombra que te avisa.
Agora és tu, por ti só,
Sem os vazios de palavras,
Sem as fábulas que amarravam
Teu ser em um nó.
O inverno mostrou-te, então,
A frieza de estar vivendo.
Sem olhar para trás,
Apenas seguias chorando.
Desces as montanhas em silêncio,
Olhando para os lados,
Despedindo-te
De um passado desfeito em farrapos.