VÍTIMAS ANCESTRAIS

A vida é um campo de espinhos,

Em cada passo, o peso da história,

Raízes profundas, vidas em ruínas,

Corações que pulsam sob a memória,

Terra, suor e dor pelos caminhos,

Frutos amargos do amor sem glória.

Os gritos ecoam nas vielas,

A fome que gruda na pele,

Ancestrais que se foram em selas,

Escravizados, sem nome, sem telha.

A sombra da casa grande, um grilão,

E o reflexo do lamento que não cessa.

Crianças que brincam entre destroços,

Sonhos despedaçados na esquina,

Os corpos que caem em fartos ócios,

A vida que passa, em ruína.

Um fuzil em vez de um brinquedo,

E a esperança, um mito, um enredo.

Mães que choram por filhos perdidos,

No labirinto da dor, a solidão,

As mãos calejadas, destinos esquecidos,

E a terra que grita, sem redenção.

Os olhos que veem, mas não enxergam,

A verdade crua, a ferida em canção.

Construções de barro, favelas em pé,

O Brasil que se ergue, mas não se vê,

A luta é constante, o tempo não cede,

No rosto marcado, a dor permanece,

Caminhos de lama, de sangue, de dor,

A tragédia é crônica, um eterno clamor.

E os jovens que sonham com um mundo além,

Mas o passado os puxa, um peso atroz,

Entre vícios e grilhões, a vida não tem,

Futuro que brilha, mas que é feroz.

A história se repete, um ciclo sem fim,

E a voz que se cala, imposta pela dor em mim.

A cada esquina, um reflexo do passado,

As memórias pesadas como o chão,

Os rostos que passam, um olhar cansado,

Procurando sentido em meio à confusão.

E o capitão do mato, irmão em pranto,

Um ciclo vicioso, um eterno quebranto.

Os rios que correm, a lama que gruda,

Nos manguezais, as promessas se vão,

E a luta é diária, a vida é labuta,

Os sonhos que afogam na escuridão.

Um pedaço da África, um grito de dor,

E o Brasil que ignora, um grito incolor.

O peso da história, a sombra do lar,

Caminhos de pedra, de pó e de dor,

Quantos não viram o sol sob o mar,

E a vida, uma dança sem amor?

A tragédia social, um verso sem rima,

E o futuro se esquece, a vida não prima.

Os ecos das vozes, a luta de um povo,

Os filhos que gritam, a carne que arde,

A história se escreve em sangue novo,

Mas o ciclo se fecha, a dor nunca tarde.

E o lamento se alastra, um canto sem fim,

No Brasil, a memória, um grito de mim.

E assim seguimos, sem rumo, sem chão,

Os sonhos embalados em dor e afã,

Na espera de um amanhã que não vem,

E a vida se esvai, como o sol que se põe.

A tragédia é eterna, um fardo a carregar,

E a história se repete, sem nunca mudar.