A alma do osso

A alma do osso

Na vertigem do indigente,

Rigorosamente desfalece

Tudo, exceto a alma

Que, impávida, permanece

Fisgada aos ossos

Despojados da carne,

Que, se não fosse pela pele

Que ao sol arde

E ao frio tremula

Qual bandeira desvalida,

Não socorreria ao corpo

Um sopro de vida.

Não há mais distância

Entre a vida e o fosso

Se não fosse pela alma

Fiel e cativa ao osso.

A mão estendida

Já não chama a atenção,

Pois as lágrimas incontidas

Não tocam mais o coração.

As vestes sórdidas e rotas

Proêmio de uma história

Aparentemente triste,

Mas sem enredo nem glória.

Assim é o mendigo,

Espectro do destroço

Impermeável à relevância

- A própria alma do osso.

Evany, 19/11/2024