A quem pertence a casa que moramos?
A quem pertence a casa que moramos?
Às mãos que ergueram seus alicerces?
Ou aos ecos da história, que ali repousam,
como sombras de quem veio e partiu?
Seria da terra, mãe cega e profunda,
que, ao engolir as raízes do tempo,
abriga os passos de um povo sem nome
e guarda segredos que ninguém sondou?
Ou talvez pertença ao vento errante,
que perambula nos corredores frios,
fiel guardião das palavras esquecidas
que se soltam como folhas no vazio.
Há quem diga que é do rio próximo,
cuja voz canta sob a varanda,
lembrando murmúrios de almas antigas
que um dia chamaram este lugar de lar.
Mas também pertence ao fogo invisível,
o lume de um lar que nunca cessa,
aquele calor que vive em nós
e aviva as paredes da casa inerte.
Ah, a casa é de quem ousa habitá-la,
das raízes que plantamos no chão.
Mas ela, com olhos de pedra e tempo,
permanece a própria e eterna canção.
Assim, não é nossa e nem dos antepassados;
não é do chão nem do vento a soprar.
A casa pertence ao mistério e ao mito,
uma chama que ninguém há de apagar.