ÁRVORE PODADA
Sopra forte, o vento dos anos,
minha copa se espicha frenética e louca
como se buscasse toda a luz da Terra
por entre árvores estáticas, sem vida, sem glória.
Emaranhados de galhos, ramos e folhas
que me sufocam, me prendem, me apertam, me tolem.
Sou árvore podada a procura do sol
que perde seus galhos pr'assim ter mais força,
livro-me de musgos que só me consomem
a energia de vida e sonhos que me restam.
Quero crescer e esticar feito cobra no mato,
ocupar outro espaço ao redor e pra fora,
sacudir com o vento e a brisa do outono,
fazer dançar os meus galhos aqui e agora.
Sou árvore pelada, sofrida, desfolhada,
Tentando encontrar seu lugar ao sol.
Sou só um alguns meses de árvore podada,
aguardando um verão pra se sentir renovada.
(A. Dourado).