O Último Poema
O ÚLTIMO POEMA
Eu fui o caminho,
fui sendo uma pequena verdade.
Hoje troco os destinos,
hoje recolho a saudade.
Eu fui o escolhido,
estando reto no caminho.
Hoje só ouço os assobios,
hoje deixo o vaso vazio.
Eu fui o que deveria ser,
fui sendo até me esquecer.
Hoje não recordo do tempo,
hoje me deixo levar com o vento.
Eu fui o que sempre fui,
sendo mais do que poderia ser.
Hoje me encontro em dois mundos
e em algum eu devo descer.
Porque vi a eternidade morrer,
vi os caminhos se fecharem
e estive perto, bem perto
de quase me esquecer.
Hoje deixo o tempo ser,
hoje deixo, hoje abandono,
porque não sei o que o amanhã irá me trazer.
E se este for meus últimos versos,
no escuro irei tudo escrever…
Porque não há segredos perto de você,
não há paredes que possam me proteger
do que me pode acontecer.
Se eu fui no passado,
no presente, me questiono
e me rasgo os pedaços.
Como o pó sendo cinzas,
como gotas de águas
penetrando a minha vida.
Estou aqui sem estar,
estarei aqui até que o
tempo venha me tirar.
Porque não vejo porquês para ser,
na linha tênue da existência terrena,
na instância de um planeta em ascensão.
Vejo razões para segurar e soltar tua mão,
e me lançar no silencioso Cosmo em perfeita expansão.
Entenda, meu irmão, eu nunca tive uma religião,
e escrevendo meu último poema,
vi que a mim mesmo me cabe pedir o perdão.