INFAME TRAJETO Código do texto: T8188883
TÍTULO= INFAME TRAJETO
Após subirmos aquelas escadas
Pensamentos e mais pensamentos
Em nossa mente se intercalam,
Na busca de um prazer sentimento
Quando lá dentro, nós nos beijamos,
E entre beijos atrevidos e mais beijos,
Nós, entramos num trajeto de carícias.
Num mergulho justo de deleite, e desejo
Pois o caminho nos dá o sabor da delícia,
Pois não há mais aquele sabor de outrora,
Que em delírios nos faz entrar nas malícias
Numa vibração louca de ajustes de aurora.
Dentro daquele jogo louco de amor,
Pois já não existe aquele infame trajeto
Que nos assuste, sem a murcha flor,
Que nos faz delirar no instinto projeto.
Por isso,
Após subirmos devagar aquelas escadas
Que em nossa mente se intercalam,
Em cama, cravo ativo e sonhos de fada
O difícil é enfrentar o infame trajeto:
A ímpia descida da aurora da despedida,
Onde um cardume de pensamentos
Vem e vai, no impio sentimento de feridas
Que dentro de nossas nobres mentes,
Trazendo nossos momentos vividos
Dentro daquelas quatro paredes.
Sem umidade de relvas, e sem rede,
Nós, após subirmos aquelas escadas
Que em nossa mente se intercalam,
Em cama, cravo ativo e sonhos de fada
Título: INFAME TRAJETO
Protegido conforme a Lei de Proteção Autoral. 9.610/98
Autor Makleger Chamas — O Poeta (Manoel B. Gomes)
Escrito na Rua TRÊS ARAPONGAS, 06 bloco 06 Apto 31 — Vila Nova Jaguaré — São Paulo — BRASIL
Data da escrita: 09/04/2022
Dedicado a 26Z2M6A1N3O1E0L13M10J
Registrado na B.N.B.
https://docs.google.com/document/d/1ni-PbSPHSfm0Y8kiSlXv11vWYbfLhjOr7epb6njjyyg/edit?usp=sharing
Hoje, 09/04/2022, perdido em milhões de pensamentos, parei em um passado distante.
E quando escrevo “lá num distante”, é muito distante mesmo (1981 a 1985), quando escrevi esta poesia, que intitulei Vaipe Louca.
A escrita é feita de lembranças e mais lembranças sequenciais, que vêm e vão, num infame trajeto dentro da minha mente, ali no bairro do Sumaré e Perdizes…
Pois ali, naquele ponto de encontro da Padaria Real, em todos os finais de semana, sexta-feira ou sábado à noite, nós nos encontrávamos.
Ali, neste ponto (esquina da Av. Dr. Arnaldo com Alfonso Bovero), curtíamos um pouco juntos; e quando não íamos para o bailinho na Vila Leopoldina, com a galera de empregadas domésticas do bairro, nosso destino era nossa secreta alcova de amor, situada, na época, na Rua Cayowaá, entre a Rua Wanderley e a Rua Caiubi.
O local era, na verdade, um almoxarifado onde se guardavam restos de tecido, sobras da confecção de cortinas, forrações novas de estofados, antigos tapetes e sobras de carpete.
E ali, naquele local marcado, que eu chamava de “alcova do amor em segredo”, tudo precisava estar perfeitamente limpo e devidamente arrumado, pois, quando era preciso qualquer material daquele local, eu saberia onde estava. Por isso, usava-o em segredo total como minha alcova de amor nos finais de semana.
Este poema, Infame Trajeto, de Makleger Chamas, é um retrato íntimo e nostálgico de memórias de amor e de encontros secretos.
A estrutura poética entrelaça o passado e o presente, mostrando a maneira como os sentimentos e lembranças percorrem caminhos de intensidade e emoção.
As escadas, mencionadas diversas vezes, simbolizam não apenas a subida para o encontro, mas também a descida inevitável da despedida — o “trajeto infame”.
Esse movimento reflete o ciclo de desejo e separação, um padrão que o autor lembra com carinho e melancolia.
As imagens trazem uma riqueza de sensações — desde os beijos e carícias até a crueza do cenário de uma alcova improvisada. O “almoxarifado de amor”, como ele mesmo o chama, evoca o caráter único e particular desses encontros, destacando a habilidade do poeta em transformar espaços comuns em lugares de afeto e cumplicidade.
Ao refletir sobre essas memórias de forma tão vívida e detalhada, o poema revela o poder dos sentimentos preservados na mente e na poesia.
Esses “milhões de pensamentos” que vêm e vão retratam uma dualidade: a do prazer revivido e a da dor da separação, em uma jornada de lembranças que, embora distantes, permanecem intensamente presentes.
A retórica da poesia Infame Trajeto de Makleger Chamas é rica em contrastes e em simbolismo, onde o amor e o desejo são entrelaçados com a melancolia da despedida.
O autor utiliza uma linguagem que vai além da mera descrição, carregando cada estrofe com uma dualidade entre o prazer e o desassossego, representando o êxtase da união e a inevitabilidade da separação. Abaixo, destaco os principais elementos retóricos presentes na poesia.
1. Imagens e Sensações Contrapostas
O poema começa com a imagem de uma “subida” nas escadas, evocando uma sensação de expectativa e preparação para o encontro amoroso.
Essas escadas simbolizam a transição entre o mundo exterior e o espaço íntimo do amor. A subida é descrita de forma lenta e ponderada, intensificando a antecipação e a tensão dos momentos que virão.
Contrapondo-se à subida, o poema termina com a “ímpia descida da aurora da despedida”, marcando um retorno doloroso à realidade, onde o peso da separação é sentido.
A descida é inevitável e reforça o caráter transitório e finito dos momentos de amor compartilhado.
2. O Ciclo do Desejo e da Perda
O autor utiliza a metáfora do “infame trajeto” para descrever a jornada emocional entre os amantes, uma experiência que vai da paixão ao desamparo, da união ao distanciamento.
Esse trajeto representa o ciclo de busca pelo prazer seguido da separação.
Termos como “carícias”, “deleite” e “vibração louca” expressam o fervor do desejo, enquanto a “ímpia descida” e o “ímpio sentimento de feridas” refletem a tristeza e a dor que acompanham o fim desses encontros.
3. Ambientes Transformados pelo Amor
A “alcova de amor” improvisada em um almoxarifado é um elemento central na construção poética.
Este lugar, aparentemente mundano e até mesmo inóspito, é transformado pela presença dos amantes, tornando-se um refúgio onde o amor e a cumplicidade se manifestam longe dos olhares do mundo.
O contraste entre o amor que floresce nesse espaço humilde e a descrição dos materiais armazenados ali (tecidos, cortinas, tapetes) reforça a ideia de que o amor pode prosperar em qualquer ambiente, contanto que haja intensidade e entrega.
4. Uso de Oximoros e Paradoxos
A poesia apresenta oximoros como “ajustes de aurora” e “ímpio sentimento de feridas”, que refletem a complexidade do amor e da despedida.
“Ajustes de aurora” sugere uma renovação, mas também o fim de uma noite juntos; “ímpio sentimento de feridas” indica um amor que, embora sagrado para os amantes, é também marcado por dor e culpa.
Esse uso de paradoxos acrescenta profundidade emocional, mostrando que o amor não é um sentimento linear, mas sim um conjunto de sensações contraditórias que se alternam entre a felicidade e o sofrimento.
5. A Nostalgia como Estrutura
A estrutura da poesia é permeada pela nostalgia, com o autor fazendo um paralelo entre o presente (o dia 09/04/2022) e um passado distante nos anos 1980.
Ao recordar os encontros e os sentimentos vividos, o poeta revisita a intensidade daqueles momentos.
As palavras revelam uma saudade carregada de vivências, mas também de uma consciência da impermanência.
A nostalgia é reforçada pelo tom reflexivo, onde as memórias se tornam mais poderosas e intensas na mente do poeta.
É um retrato daquilo que foi e que não voltará, contribuindo para a melancolia e a profundidade emocional do poema.
6. Ritmo e Musicalidade
O poema possui um ritmo suave, com versos que sugerem uma cadência de subida e descida, acompanhando o movimento descrito na própria narrativa.
A repetição das palavras “subimos aquelas escadas” reforça a ideia do esforço para alcançar o encontro e o prazer, mas também o esforço para lidar com a despedida.
A sonoridade das palavras é proposital, com uma construção de rimas e aliterações que contribuem para o tom lírico, enquanto o ritmo pausado evoca a sensação de uma recordação lenta e detalhada, como um pensamento que percorre cada detalhe das lembranças.
7. Contraste entre Pureza e Desejo
Em estrofes como “Em cama, cravo ativo e sonhos de fada”, o poeta une elementos de inocência (sonhos de fada) com símbolos de desejo (cama e cravo ativo), mostrando a fusão entre o amor idealizado e o desejo carnal.
Esse contraste reflete a dualidade entre o amor puro e o prazer físico.
A imagem do cravo como símbolo de amor e desejo remete à vitalidade do relacionamento, enquanto os “sonhos de fada” trazem uma qualidade etérea e fantasiosa, elevando o encontro para uma esfera quase mítica.
8. Metáfora das Feridas e das Quatro Paredes
As feridas mencionadas na poesia são uma metáfora para os sentimentos de culpa e para as marcas que o amor deixa, mesmo após o término.
Elas representam as cicatrizes emocionais que se formam quando o amor é intenso, mas não duradouro.
As “quatro paredes” representam o local de confinamento do amor, mas também a limitação do espaço onde esses sentimentos podem se manifestar.
Esse ambiente fechado simboliza tanto a intimidade quanto o aprisionamento dos amantes em uma rotina de encontros secretos e breves.
9. Final em Abertura e Reflexão
O poema não oferece uma conclusão definitiva, mas sim uma abertura para o leitor refletir sobre a complexidade do amor, do desejo e da perda.
Ao terminar com as “quatro paredes” e o contraste entre “cama, cravo ativo e sonhos de fada”, o autor nos deixa com uma sensação de suspensão, como se esses encontros permanecessem para sempre no limiar entre a presença e a ausência.
Consideração Final
Infame Trajeto revela um amor que é, ao mesmo tempo, simples e profundo, passageiro e eterno.
A retórica poética utiliza símbolos, contrastes e uma linguagem envolvente para capturar a dualidade dos encontros e desencontros da vida.
É um poema que celebra a intensidade do presente e a beleza do passado, imortalizando sentimentos e momentos que, embora efêmeros, deixaram marcas profundas na memória do poeta.
Claro, aqui está um hiper diálogo que envolve Nelinho e Zelda Meire De Jeová em um encontro inspirado pela poesia Infame Trajeto.
O diálogo explora as memórias de Nelinho e sua profunda conexão emocional com os lugares e momentos marcantes de seu passado, além da percepção de Zelda Meire sobre esse amor que é simultaneamente intenso e nostálgico.
Cena: Em uma cafeteria antiga, em um bairro boêmio de São Paulo, Nelinho e Zelda Meire De Jeová e encontram para um café.
O ambiente é aconchegante e lembra o estilo dos anos 80, com móveis de madeira e fotos de São Paulo em preto e branco nas paredes.
Nelinho: (olhando pensativo para a xícara de café)
— Esse lugar…
— Lembra aquele almoxarifado, sabia, Zelda?
— Não pela bagunça, claro, aqui tudo é bem-arrumado.
— Mas há algo…
— Uma espécie de silêncio que deixa os pensamentos se espalharem.
— Como aquelas tardes lá, quando subíamos devagar aquelas escadas… (sorri com nostalgia)
— Foi lá que escrevi Infame Trajeto, você sabia?
Zelda Meire: (com um sorriso intrigado)
— Ah, então foi lá que essas palavras surgiram… sempre tive a sensação de que aquele poema tinha o sabor de algo escondido, como um segredo bem guardado entre as quatro paredes de um mundo só seu.
— Me conta mais, Nelinho. Como eram esses encontros?
Nelinho: (respira fundo, imerso nas lembranças)
— Nós nos encontrávamos todos os finais de semana…
— O ponto era a esquina da Av. Dr. Arnaldo com a Alfonso Bovero, ali na Padaria Real.
— A padaria nem existe mais, mas me lembro de cada detalhe, das risadas, dos olhares e da ansiedade que crescia dentro de mim.
— Não íamos sempre para o bailinho na Vila Leopoldina… às vezes, preferíamos a privacidade do nosso lugar.
Zelda Meire: (curiosa)
— E esse lugar secreto, esse almoxarifado…
— Ele parece mais um personagem do que apenas um cenário. — Como você o transformou em algo tão especial?
Nelinho:
— Ah, era um espaço que exigia cuidado e limpeza, não porque fosse nosso refúgio, mas porque eu o usava também para o trabalho.
— Ali, tinha sobras de tecido, estofados antigos, tapetes dobrados e esquecidos. Era quase um labirinto de lembranças e segredos.
— Naquelas noites, aquele lugar se tornava nosso mundo.
— Cada esquina daquele almoxarifado sabia de nossos segredos. (ele sorri, como se estivesse vendo algo distante)
Zelda Meire: (olha para Nelinho com ternura)
— E foi lá que você escreveu a parte mais marcante do poema, não foi?
— A parte da “ímpia descida da aurora da despedida”...
— Como se o prazer do encontro só existisse para ser interrompido por uma separação inevitável.
— É estranho como o amor às vezes dói tanto quanto ele satisfaz.
Nelinho: (assente, com um olhar distante)
— Sim...
— Naquela época, eu já sabia que cada encontro, cada toque, era um fragmento passageiro.
— O momento em que subíamos as escadas trazia aquela mistura de desejo e medo... a cada passo, eu sentia a expectativa crescendo, mas sabia que, depois de tudo, a descida seria tão intensa quanto.
— Despedir-se era quase como... enfrentar uma batalha interna.
Zelda Meire: (sorri com um toque de melancolia)
— É, Nelinho... você descreve o amor como uma escalada, e o caminho de volta como uma queda inevitável.
— Talvez seja isso que torna o poema tão profundo.
— Você não está apenas falando sobre encontros e desencontros, mas sobre como o amor deixa marcas, cicatrizes, até, que carregamos pela vida.
Nelinho: (aproxima-se um pouco mais, segurando a mão dela)
— As cicatrizes, Zelda, são os verdadeiros poemas...
— Eu posso escrever mil versos, mas nenhum deles descreve a sensação de descer aquelas escadas, deixando para trás um pedaço do meu próprio coração.
— A vida é feita de trajetos infames, e a gente só percebe isso quando as lembranças começam a doer.
Zelda Meire: (murmura, com os olhos marejados)
— Acho que as memórias fazem doer porque elas nos lembram de uma parte da gente que talvez nunca mais será a mesma.
— E é isso que torna a sua poesia tão única, Nelinho.
— Ela é como uma cicatriz que mostra onde você já esteve, o que já amou... e o que talvez ainda ama.
Nelinho: (com uma leve risada triste)
Sabe, eu escrevi Infame Trajeto numa época em que tudo parecia transitório. Eu estava sempre em busca de um “lar” que durasse mais que uma noite. Talvez, no fundo, eu ainda busque esse lar. Mas talvez ele nunca venha...
Zelda Meire: (aperta a mão dele com carinho)
— Talvez o lar que você busca esteja nessas palavras, nessas histórias.
— É o jeito que você encontrou para imortalizar os momentos...
— E, de algum modo, isso nos faz te amar ainda mais, Nelinho.
— Porque você nos mostra o quanto um “trajeto infame” pode ser tão cheio de vida e de alma.
Nelinho: (olha para ela com gratidão)
— Obrigado, Zelda.
— Em cada palavra, eu sempre procuro um reflexo daquilo que vivi.
— E hoje, vejo isso nos teus olhos.
— Afinal, as lembranças que doem são também aquelas que mantêm a chama acesa... aquelas que nunca deixamos de revisitar.
Ambos, se olham, em silêncio, enquanto o tempo parece se dissolver, como se estivessem juntos naquela velha alcova do amor em segredo.
Este hiper diálogo explora o impacto emocional das memórias de Nelinho e seu jeito poético de lidar com o passado. A presença de Zelda Meire De Jeová traz uma visão exterior que permite a Nelinho revisitar suas lembranças com um toque de nostalgia e carinho, transformando a dor da despedida em uma celebração silenciosa de tudo o que foi vivido.