A estranheza da fé

Eu sempre vou estranhar,

Que aqueles que creem em Deus,

O "Deus cristão" que creem ser o único,

Que colocam acima de qualquer outra fé,

Ou mesmo da ausência de fé,

Que escrevem seus ditos e não ditos,

Narrando seus preceitos,

Como Leis marciais e punitivas,

Precisem à todo o tempo,

A ele se referir publicamente,

Expor o quão "crentes" são,

O quão seguem seus desígnios,

Mesmo não havendo nada escrito por ele,

O quão são superiores aos demais,

O quão são especiais e escolhidos,

O quanto receberão por serem assim.

Na sanha de tentar convencer aos outros,

E ainda "converter" forçosamente,

Pelo "amor" ou "dor" vindas desse Deus,

Pela visão do paraíso ou do inferno,

Acabam parecendo tão frágeis na fé,

Tentando convencer a si próprios,

E buscando a validação externa,

Quando deveria ser algo para si,

Uma resolução interna como é a fé,

Cada um tem (ou não tem) a sua,

E está tudo bem ser assim.

Eu sempre me surpreendo,

Em como Deus virou essa barganha,

Esse marketing pessoal de exposição,

Essa imposição de uma só verdade.

Eu creio em Deus, cristão, mas não nesse,

Meu Deus não é o Deus desses crentes,

Não é esse Deus do fundamentalismo,

Meu Deus é uma força de amor,

Uma força de compreensão e acolhimento,

Uma força para a qual oro internamente,

Uma força a quem busco e me abrigo,

Sem precisar "esfregá-lo" ou a minha fé,

No rosto de ninguém mais,

Não sou melhor ou pior por ter fé,

Mas ela é só minha, não da coletividade,

Minha fé não é de templos ou pastores,

Minha fé não é um outdoor em via pública,

Minha fé eu guardo em mim,

É uma escolha minha,

Não preciso impor minha fé a ninguém,

E nem me vangloriar dela,

Isso é exibicionismo e imaturidade.

Minha fé não é artigo de luxo ou troca,

Minha fé não é mediação para recepção,

Não faço tratos com Deus,

Nem sacrifícios, nem cegas adorações,

Só o carrego dentro de mim, por mim,

E sigo a minha vida sem gritarias disso.

Não acredito que minha fé seja a melhor.

Acredito que o melhor é ser livre,

Crer ou não crer no que quiser.

Uma fé que divide e condena,

Destrói o princípio da religião

"Religare", ligar o divino ao humano,

Pois só promove guerras e separações,

Cada um crê no Deus que é mais parecido consigo,

O meu é um Deus consciente,

Um Deus de leveza e afeto,

E é por isso que não estou no ateísmo,

Mas respeito quem está.

O livre arbítrio nos permite escolher,

E escolhas não são ditaduras.

Sim, eu creio, mas muitos não sabem,

Outros não acreditam e não importa,

Não creio para ninguém mais além de mim.