Céu Rasgado
Na estranha simetria da translação dos pecados,
no limbo das reincidências
do final em frio pranto
pelos restos assombrados.
A chuva que a intuição anuncia
incendeia os rastros, inflama o corpo,
queima a língua, e revela a sina
no clarão do relâmpago, na leitura dos astros,
na árvore caída.
Acende o olhar manchado
pela perversão normal,
marcado na selvageria da fé,
que extinguiu o amor e o cordeiro,
no sol findo do que um dia foi sagrado.
Tão ilegível é a minha alma
para a tua divindade esquecida.
No meu altar vazio, rezo apenas
para quem fui escrita,
no pulso daquilo que me sangra e me salva.
Nos desenhos das nuvens em carrossel,
rasguei o véu, sequei o céu,
enquanto o mundo se calava.
Hoje, o tempo parou, não choveu,
e ninguém mais chorou.