A NOITE DO POETA ERRANTE

Tenho tantos defeitos.

Não quero amores perfeitos.

Não tenho mais jeito.

Me deixe errar,

me deixe pecar.

Sou humano demais,

doido demais,

sonhador demais.

Poeta honesto, só para mim presto.

Guarda um amor para mim;

voltarei antes do fim.

A noite ainda não acabou.

Mais uma dose para quem sonhou.

Se você quiser, pode me beijar,

lamentar comigo o mal amar.

Tudo, tudo antes dessa noite acabar,

antes da minha luz apagar,

antes da maré secar.

Amanhã voltará a realidade;

fingirei feliz na infelicidade.

Amo, mas quero ir dessa cidade;

só quero ser eu, liberdade,

sem precisar fingir para a sociedade.

Dormir bêbado na calçada,

dar na vida as minhas topadas,

decifrar minhas estradas,

andar sozinho, camarada.

Deixa pra mim um pedaço de carne seca,

aquela foto antiga da família na gaveta,

a velha enxada e a marreta.

Já fui ovelha negra, agora capeta.

Benção, minha mãe, não te verei mais;

o mundo é grande e eu não sou capaz.

Não aprendi nada; ainda sou teu rapaz.

Velhas mágoas e lembranças,

certas dores sem esperança.

Sentado no quintal, passou a infância.

O mundo é grande, eu sem relevância.