Deriva

Em dias esquecidos, arrasto noites como sombras

em um céu de cinzas,

no silêncio sem paz, no espaço onde a palavra impecável,

viva ou morta, não chega.

Na abstinência da voz, grito um mundo inteiro,

aproveito o tempo de me perder,

em um saber tecido em miragens,

onde todo destino não é mais que deriva.

Num banho de mar de dentro para fora, deságuo,

atravesso as ondas e o medo.

Danço e rodopio na minha tempestade,

com passos de caos, suaves e lentos.

Na urgência do fôlego,

atônita na tônica do existir,

diante da dissolução do ar e do fogo.

Avalio, alivio, respiro como quem ama,

me levo embora de mim.

Desfaço as camadas da dor,

e, além dela, no desejo de não ser,

ainda que desabrigada, no sopro original, reconheço-me.

AlineLima
Enviado por AlineLima em 09/10/2024
Código do texto: T8169543
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