Ecos da Imperfeição
Há dias em que sou sombra, pura ausência,
Entre o que esperam e o que sou de essência.
Cada palavra que me dizem crava fundo,
Ecoa na alma e me faz pequeno no mundo.
Há em mim um abismo que não cessa,
Como se a própria vida fosse promessa
Não cumprida. E em silêncio, sou réu,
Carrego culpas que nem sempre são meu véu.
Queria, ao menos, amar-me no reflexo,
Mas o espelho só revela o desconexo.
Sou parte da injustiça que condeno,
Perdido entre o externo e o que carrego dentro.
Ser o farol? Como, se a própria luz me fere?
Cada lampejo é corte que a alma interfere.
E na cama, o lençol pesa feito dor,
De um corpo que se afunda em sua própria cor.
A busca de ser mais me arrasta ao chão,
Cada passo que dou, tropeço na ilusão.
Sou sombra e sol, erro e contradição,
Tentando encontrar no caos alguma redenção.
E nos dias em que não suporto existir,
Respiro fundo, mas o ar não quer fluir.
Palavras se tornam punhais em minha voz,
Enquanto busco um perdão que morre em nós.
Ser humano é carregar a imperfeição,
Aceitar que o erro é parte da condição.
No compasso do tempo, há sempre um começo,
Mas, até lá, sigo preso nesse recesso.
Porque ser é, enfim, um ato de desamor,
Em que tentamos, mas sempre resta a dor.
Na noite mais escura, sou o eco frio,
E cada passo que dou me leva ao vazio.