O Nada
Com asas envernizadas de piche, ambivalente,
voa o tempo, denso e escorregadio que não me pertence.
Senhor de tudo e de todos,
da eternidade do universo e
dos instantes que somos.
Ceifador e maestro de uma sinfonia
de batimentos pesados e frios,
em marcha constante e fúnebre.
Marcando o sofrimento do viver
insuficiente e vadio
e o rito sombrio do morrer que precede a própria morte.
Ontem mesmo, no absurdo da existência,
senti que morri...
Nas diferentes dimensões da morte,
na erosão das horas, nos dias que desaparecem,
nem a covardia, nem a coragem nos salvam.
Morremos todos, observando a vida que passa.