ELES
Eles se arrastam pelas ruas,
Não exalam mal cheiro, nem perfume.
Sentam-se nos bancos das praças e ficam olhando as pessoas passarem.
Os bons ainda não sabem que também são maus;
Uns pensam que mantêm a ordem,
Mas são apenas parte da desordem;
Não há equilíbrio no caos, apenas tolices.
Sorridentes, pedem e dão esmolas generosas;
Fazem juras de amor e de vingança;
Fazem guerras em nome da paz e da esperança.
Insensíveis, vão às lagrimas quando preciso.
Não queimam no fogo do inferno, nem ruflam suas asas pelos ares
Porque não há céu ou inferno que lhes consigam abrigar das suas próprias cobiças;
Silenciam quando a justiça lhes clama a voz.
Têm gana quando a dor atroz não é alheia.
Por trás dos seus sorrisos não se lhes vislumbra o intento.
Caminham entre nós, mas não deixam seus passos na areia do tempo,
Trôpegos de álcool, luxúria, cupidez e cocaína.
Ajuntam-se em comícios ruidosos,
Em congregações fervorosas,
Em missas suntuosas,
Em sessões luminosas,
E são uníssonos quando formatam a verdade para acomodar todas as suas mentiras.
Comemoram a morte dos inimigos e se preciso matam os amigos sem qualquer remorso.
Eles caminham entre nós na vigília e seguram nossas mão nas noites tenebrosas
Seus passos são os nossos,
Seus gestos e trejeitos são os nossos,
Até suas gargalhadas e dores são as nossas.
Eles, sempre eles e nós; nós e eles, deuses e demônios.