O ÍNDIO

O índio olhando sol

Que nascia por trás da serra.

Soltou um pranto feroz

Que vivia dentro da terra.

Os rios olhando-o pararam

Suas marchas para o mar.

Do índio ouviu-se um canto

Que o mundo se pôs a chorar.

“Não me vale a vida mais longe

Do verde que eu chamo de sorte.

Já choram os meus filhos mais sós

Sem rumo que eu chamo de morte.

Do que vele as asas do pássaro

Maiores que pobre andorinha.

Eu quero a cantiga da mata

A paz da minha própria casinha.

Eu quero o canto mais livre

Do peito que na tarde se vai.

Do rio que dorme mais triste,

Do filho que me chama de pai.

Do sorriso que morre silente,

Do homem que olha p´ro alem,

Dos olhos que não fitam as estrelas

Porque as estrelas mais lindas não têm.

Não sei a quem cabe mais culpa

Presse negro e turbulento estado.

Se é do índio que não tem futuro

Ou do branco que não tem passado”.

O índio calou-se de repente

Fitando um alegre passarinho

E cantando a sua fiel balada,

Pusseram-se a caminhar sozinhos.

Então, o sol tristemente

Não partiu p´ra noite chegar.

Ficou a contemplar os dois

Sem terra, sem rumo e sem lar.

joao bosco neves
Enviado por joao bosco neves em 27/08/2024
Reeditado em 27/08/2024
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