Hematoma

Eu li as cartas de Cellie

ainda que estas não fossem a mim endereçadas.

Elas traziam consigo sem máscara,

a excruciante realidade de uma mulher vilipendiada.

Não eram ricas em vocabulário,

Tampouco compostas por argumentos articulados.

Mas expunham o abuso em segredo, o machismo grotesco,

A dor e o medo de um alguém violado.

Seus filhos foram dela arrancados, seu direito à escolha cerceado.

Da própria alma ela juntou os cacos, sem certezas de que haveria um amanhã.

A violência e o trabalho forçado, não eram nada comparados a perder seus pedaços.

Ao ver sem um abraço partir sua irmã.

Mesmo tendo tantas carências,

Alienada e sem referências, ela demonstrou uma essência altruísta

Um desejo alquímico por transcendência

A fez questionar sua própria impotência e o ciclos de origem determinista.

Ao conhecer Shug Avery ela se reconhece,

Descobre seu sorriso e a sua beleza

Mas condicionada condena Sofia

Ao mesmo mal que a fez prisioneira.

O Ativismo nem sempre é bem-visto,

E retribui Sofia com o retrocesso.

Ela tem parte de sua vida roubada,

pela injustiça e o racismo funesto.

Cellie desperta e se reapropria,

de sua vida destino e liberdade

Confrontando quem a acorrentava,

Ao descobrir as cartas Nettie, e revisitar toda a verdade.

Passar pela cor púrpura e não nos darmos conta?

Para mim soa como não meter a colher.

Perpetuando o estigma que os ismos apontam.

De se nascer feia preta pobre e mulher.

Michael Thomaz
Enviado por Michael Thomaz em 21/08/2024
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