CANTO DA DOR
Aceitei a dor, como aceito a vida,
Não como sombra que tudo consome,
Mas como cinzel que a carne lapida,
Iluminando a alma, defeito que some
Na carne, a dor é um instante divino,
Para repensar o caminho traçado,
Como vinho doce que logo torna-se amargo,
A vida se faz de fases e desafino
A dor aparando, moldando as imperfeições,
Nos torna fortes, resilientes, antifrágeis,
Cresce a alma, desperta as consciências,
Nos valores que a matéria se opõe .
Na solidão da dor, Deus se revela,
Não como ausência, mas presença latente,
No coração, sempre esteve ali,
Esperando o momento da cautela
Pela dor, aprendemos a nos diminuir,
Para que a alma cresça em luz e amor,
E, no silêncio da dor, a paz floresce,
E o espírito se eleva, enfim, ao Criador.
Tião Neiva