À DERIVA
No barco eu sou a bagagem mais densa
que o tempo no dia de hoje não quer saber,
daqueles dias longos, além das 24 horas.
No cais tentei uma despedida do meu coração,
não aceitou, quis comigo viajar, navegar,
e voltar, mesmo que outra vez, sozinho.
A luz branda da lua sobre as águas nuas do mar,
as minhas mãos tremulas de emoção,
no frisson da solidão, se estendem no vazio,
querendo da brisa fria o calor que só eu sinto.
Fugidia, ela escorre e foge entre os dedos,
na direção da distância, sem aproximação.
A cabeça gira e os meus olhos na noite escura
porventura, de doce loucura tudo clareia,
horizontes estremecidos: uma, duas, três, quatro.
No balanço das ondas, um acalanto!
O corpo cansado pede tréguas e quem sabe,
na aurora do amanhã verei as quatro gaivotas
num voo elegante no céu pleno de azul e paz,
na companhia de seus filhos e filhos.