E ELA VOA
Quando fecha os olhos
Ela voa...
E, voando, ela vira canção
Vira chuva ao vento
Toca faces, braços e pés
Nas metamorfoses do luar
Em suas fases fiéis
Ela voa sem asas
E, voando, ela mistura
Nuvem, céu e imensidão
Num abraço de laço
De coragem, de mulher
Que sonha, mata e come.
Voando, ela aprendeu a nadar
A plantar, a semear...
E a temperar a existência
Com sal, pimenta e mel
E ela voa, voa, voa
Dentro de um sorriso-flor
à desabrochar
Sobrevoa e sobrevive
Ao desatino destino
Como bala que sai num tiro
E sangra, sangra, sangra
Sangra sem parar...
Sangrar é ritual divino
Entre as pernas férteis
De um corpo que é colo,
alimento e perfeição.
E voando
Ela quer juntar
O presente e o passado
Encontrar o futuro alado
Encarar as ventanias
Desafiar o tempo
Como gaivota livre
Que baila no ar
Fabíola Sampaio
Dezembro 2023