Ocaso
Era um dia manso,
como todo santo dia, manso é!
Tedioso, como todo dia que se preza!
Uma tarde lúgubre,
como todas as tardes hão de ser...,
sem tirar nem pôr!
Quando caminhava o dia,
para seu fatídico e profético findo,
o céu, com seus distintos humores,
fez-se parecer indisposto;
muito e muito enfermiço,
mas tomado de alegre morbidade.
Abriu-se no céu um sorriso largo,
de horizonte a horizonte!,
expondo-se em fenda de vermelho vivo
com réstias de amarelo ouro velho,
a boca desdentada da noite!
Rasgão que engoliu o sol!,
e degustou, saborosamente,
em lento e silente sorver!
O luto veio com a noite.
Véu negro de negro esplendor!
Não houve lágrimas,
porque não houve choradeira.
Não houve velas,
pois que a luz pouca da lua
fazia sentinela em velório mudo!
Não houve lamúrias,
Pois que não havia carpideiras...,
mas ouvia-se o dengoso queixume
do vento cigano que aqui vadiava!
Talvez não pelo morrer do sol...,
uma vez que é sina do vento
ser lamurioso e rezingueiro.
De certo, o persistente morrer do sol,
é de muito despossuído de pesares;
pouca ou nenhuma saudade deixa,
pois que renasce, dia seguinte,
no banzo da manhã, tal e qual ave fênix.