"Para os que Virão", Poema do Poeta amazonense Thiago de Mello
Para os que Virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
Thiago de Mello
Sobre
Descrição
Amadeu Thiago de Mello foi um poeta, jornalista e tradutor brasileiro. Foi considerado um dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional.
Nascimento: 30 de março de 1926, Barreirinha, Amazonas
Falecimento: 14 de janeiro de 2022, Manaus, Amazonas
Filhos: Manduka
Amadeu Thiago de Mello (Barreirinha, 30 de março de 1926 — Manaus, 14 de janeiro de 2022) foi um poeta, jornalista e tradutor brasileiro. Foi considerado um dos poetas mais influentes e respeitados no país, reconhecido como um ícone da literatura regional.
Biografia
Amadeu Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no Amazonas, em 1926. Após concluir seus estudos iniciais em escolas amazonenses, ingressou na graduação em medicina na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, mas abandonou o curso na metade, ingressando na diplomacia na década de 1950. Foi adido cultural na Bolívia e no Chile, mas teve sua carreira interrompida pelo golpe de 1964. Durante a ditadura (1964-1985) foi preso e depois se exilou no Chile, onde encontrou Pablo Neruda, um amigo e colaborador.
No exílio, também morou na Argentina, Portugal, França e Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal e depois se mudou para Manaus, onde viveu até sua morte.
Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, onde o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. A preservação da Amazônia era tema presente em sua obra. A sua poesia escrita foi Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida que lhe rendeu, em 1975, ainda durante o regime militar, um prêmio concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e o tornou conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.
Foi membro da Academia Amazonense de Letras, na cadeira nº 29, eleito em 20 de janeiro de 1955, na sucessão de Vivaldo Lima, e recebido em 15 de março de 1956, pelo acadêmico Djalma Batista.
Em homenagem aos seus 80 anos, completados em 2006, foi lançado pela Karmim o CD comemorativo A Criação do Mundo, contendo poemas que o autor produziu nos últimos 56 anos, declamados por ele próprio e musicados por seu irmão mais novo, Gaudêncio. Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas.
Obras
Poesia
- Silêncio e Palavra, 1951
- Narciso Cego, 1952
- A Lenda da Rosa, 1956
- Os Estatutos do Homem, 1964
- Faz Escuro, mas eu Canto: porque a manhã vai chegar, 1966
- Poesia comprometida com a minha e a tua vida, 1975
- Horóscopo para os que estão Vivos, 1984
- Mormaço na Floresta, 1984
- Vento Geral – Poesia, 1981
- Num Campo de Margaridas, 1986
- De uma Vez por Todas, 1996
- Cantídio, André Provérbios, 1999
Prosa
- A Estrela da Manhã, 1968
- Arte e Ciência de Empinar Papagaio, 1983
- Manaus, Amor e Memória, 1984
- Amazonas, Pátria da Água, 1991
- Amazônia — A Menina dos Olhos do Mundo, 1992
- O Povo sabe o que Diz, 1993
- Borges na Luz de Borges, 1993
- Vamos Festejar de Novo, 2000
Referências
Wikipédia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello
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