Últimas palavras sem qualquer ruído
Eu vi o mundo mudar.
Eu fiz parte dele por todo este tempo,
Devotei cada um dos meus segundos à ele.
Eu vivi coisas que não apenas não existem,
Mas também nunca mais existirão.
Eu estive na escassez, na reclusão
Fui uma das vítimas do escuro
Da decepção.
Eu vi a morte de líderes, civis
Eu vivi quando cunharam as balas;
Quando criaram os fuzis.
Catástrofes, de causas naturais
Pelas mãos dos homens, meus iguais
Mas que em nada lembravam a mim
Ou meus ideais.
Meu maior crime foi a ignorância
Réu confesso, última instância
Sem necessidade de julgamento.
Produto da minha época,
Acabei sendo bem mais
Do que se esperava.
Há tempos aguardava
O último dos tilintares,
Tão parecido com os talheres,
Que minha falecida mãe punha a mesa.
Objetos que provavelmente já se foram,
Sobre mesas que já se desfizeram,
Numa casa que eu não me lembro,
Em uma cidade que não se lembra de mim.
Um a um, se despedindo
Sem a certeza se fico
Ou já vou indo
Abraçar aqueles
Que definharam
Antes de mim.
Que não sabem que tudo mudou,
Não sabem aonde estou
Mas sabem que estou
Próximo do fim.
Agora tudo parou,
Não vejo mais nada mudar,
Não vejo as faces chorosas,
Já estou em outro lugar,
Congelado no tempo,
De braços abertos,
Todos aqueles
Que ainda não acharam a hora
De me acompanhar.
Adeus.