Últimas palavras sem qualquer ruído

Eu vi o mundo mudar.

Eu fiz parte dele por todo este tempo,

Devotei cada um dos meus segundos à ele.

Eu vivi coisas que não apenas não existem,

Mas também nunca mais existirão.

Eu estive na escassez, na reclusão

Fui uma das vítimas do escuro

Da decepção.

Eu vi a morte de líderes, civis

Eu vivi quando cunharam as balas;

Quando criaram os fuzis.

Catástrofes, de causas naturais

Pelas mãos dos homens, meus iguais

Mas que em nada lembravam a mim

Ou meus ideais.

Meu maior crime foi a ignorância

Réu confesso, última instância

Sem necessidade de julgamento.

Produto da minha época,

Acabei sendo bem mais

Do que se esperava.

Há tempos aguardava

O último dos tilintares,

Tão parecido com os talheres,

Que minha falecida mãe punha a mesa.

Objetos que provavelmente já se foram,

Sobre mesas que já se desfizeram,

Numa casa que eu não me lembro,

Em uma cidade que não se lembra de mim.

Um a um, se despedindo

Sem a certeza se fico

Ou já vou indo

Abraçar aqueles

Que definharam

Antes de mim.

Que não sabem que tudo mudou,

Não sabem aonde estou

Mas sabem que estou

Próximo do fim.

Agora tudo parou,

Não vejo mais nada mudar,

Não vejo as faces chorosas,

Já estou em outro lugar,

Congelado no tempo,

De braços abertos,

Todos aqueles

Que ainda não acharam a hora

De me acompanhar.

Adeus.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 02/08/2024
Código do texto: T8120226
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