Confissões sinceras às almas amadas
O mundo parece uma triste capela vazia,
acendo outra vela vespertina, tudo é melancolia,
lágrimas escorrem pelo meu corpo das minhas retinas,
Berro de dor, e minha dor é cisterna tão sozinha!
[Eli, Eli, lamma sabachtani
A noite é um silêncio que abraça a minha dor,
meus irmãos ceifados pelo machado da morte,
eram jovens, cheios de vida, tudo agora é dissabor,
Carrego no peito as chagas incicatrizáveis desse corte.
[Maledictus Deo qui natus sum
Os risos são memórias que se esfumam,
Cintilam no silêncio profundo do lamento,
nas sombras, tantas histórias se amontoam,
E cada lembrança é rio de ternura e tormento.
Vivíamos uma infância de amor e união,
dias dourados sob o sol da inocência,
corríamos livres, crianças felizes sem rumo ou direção,
No coração, havia a pura e a eterna presença.
Sheila, irmã de riso fácil, cheia de força e calor,
em teus braços encontrei tanto conforto e luz,
teu carinho, minha irmã, é sopro eterno de amor,
E no breu, teu nome ainda me enlaça e me conduz.
Márcio, meu irmão de tanta coragem e bondade,
Teu zelo e proteção eram nosso porto seguro,
Teu jeito de ser e teu amor eram oceanos de verdade,
Agora, os belos mares do teu riso são um silêncio obscuro.
Leidivan, irmão cheio de inteligência e compaixão,
tua risada ressoava como o canto de esperança,
sinto tanto tua falta que acho que enlouquecerei nessas andanças,
Recordando e sentindo o júbilo de nossa infância e conexão.
[Moriuntur homines sicut folia arida
Todavia, a morte, impiedosa, não conhece a pena,
cortou a tua mão da minha, ceifou nossa alegria,
e transformou nosso lar nesta tempestade de gangrenas,
Abandonando-nos na casa da dor, da solidão e da agonia.
Ó fado maldito, por que nos fere tanto e nos desgraçou?
arrancaste dos meus braços quem sempre me foi tão amado,
cada passo que dou é este inferno injusto, as fotos nos retratos!
Tantas tragédias nesta família que a Deus tanto serviu e amou.
Morte implacável, carrasca sem compaixão,
que injustiça há no teu desígnio insano?
e tu, vida, és um oásis perverso, do universo uma torpe traição,
E Deus? deus é vento indiferente ao clamor e ao pranto humano.
Pois a morte_ prostituta de mil caras_ nos comercializa,
com cálidos encantos, ela as vidas de mil almas dinamita;
navega na neblina, prometendo eternidades e êxtases no pós-vida,
E no seu jogo de gato e rato, com fés e esperanças nos hipnotiza.
[Mors cornix damnata fato truditur
É tão fácil a maioria se aproximar e assim dizer-nos:
"Eles estão bem”, ou “Os bons pra si Deus chama”,
Ou “É assim mesmo”, ou “São mistérios da vida”.
Queria ver você perder três irmãos jovens que tu amas
E continuar rindo, engolindo ilusórios consolos e mentiras.
É tão fácil a maioria profetizar e assim dizer-nos:
“Eles estão com os anjos”, ou “Eles estão em eterna paz",
Se "paz eterna" significa não sentir porra nenhuma, nada ser,
Ignoram aquela vida que tinha tantos sonhos e tanto a viver,
Tornando a morte numa “passagem” que não podemos entender.
É tão fácil alguém nos abraçar e nos revelar:
"Deus chama os seus filhos mais queridos",
Enquanto o vazio dilacera o ser de quem aqui ficou,
Buscando sentido em dogmas e consolos sem sentido,
Mas nada apaga a dor que a partida repentina deixou.
[Eli, Eli, lamma sabachtani
Acendo mais uma vela à bela e efêmera vida,
PAI, MÃE, IRMÃOS: vocês são minha alegria ávida;
no meu peito, nunca vai embora este sofrimento,
Porém, sentindo-vos na alma, encontro choro e alento.
Nesta capela vazia, onde a sombra dos mortos e do nada reside,
sinto-vos a vossa presença: sois meu farol nas noites frias;
apesar dessas mortes absurdas, do fado vil e das brutas injustiças,
Ó irmãos meus: vossas ausências e vosso Sol
São a nossa perene presença e a candeia dos nossos breves dias!
[Amor familiae omnia vicit
"In memory of my family
and my brothers who I loved so much and still love:
Sheila, Márcio, Ledivan: amo-vos todos os dias,
em todos os instantes, de todo o meu coração!” (Gilliard A.)