Capitães de areia
A política do costumes
Fabrica insuficiência governamental
É difícil respirar
Abundância de desistência
Caridade também têm seu lado lamaçal
E os meninos de rua
Sentem a verdade instantaneamente
Sabem a distância entre os decretos
E o concreto que lhes servem como cama
As páginas dos jornais
Aquecem a carne crua
A alma nua
Agora estão juntos
A fonte e o assunto
Capitães de areia
Correndo no asfalto
Entre os carros e semáforos
Breves momentos de arte
uma nova espécie de quilombo
Nos escombros da humanidade
Querem construir um mundo civilizado
Nesse castelo de cartas marcadas
Meninos e meninas no frio da noite violenta
Aquecem suas almas com ódio da pátria desalmada
Capitães de areia
São problemas para higienização social
Perturbam a rotina dos contribuintes
Estragam a paisagem do cartão postal
E mais um desapareceu
Foi pego pelo capitão do mato atual
Ninguém nunca mais o viu
Viajou no sentido literal
Mais um dia finda
Jorge Amado já se foi também
Mas os capitães de areia persistem na existência
Enfrentando a pátria com desdém
Deixem-me vir às criancinhas, pois o Reino dos céus pertence a elas.