Em essência

Eu quero saber sobre aquilo que acontece por trás do que está acontecendo.

Me interesso pelo que motivou o pensamento pensado.

Sobre o que o outro quer que eu não saiba quando me fala do que sabe.

Sobre o que é dito quando não se fala.

Intuo que preciso ficar mais calada para o âmago desses fenômenos conseguir captar.

Por isso ando mais a ouvir do que a falar .

Encontro alguém querido, um diálogo vai se iniciar...

Vou ter uma oportunidade para essa linguagem mais profunda tentar praticar.

Me concentro, respiro, me esvazio...

Atenção. Vamos lá. Vai começar.

Me-dito é hora de ouvir...

Depois de conseguir o meu silêncio interior, um passo importante é com meus olhos os olhos do outro encontrar.

A partir daí não posso mais piscar.

Agora, unicamente, escutar.

Ouço, ouço, só ouço....

Ouço o tom da voz, o ritmo, as palavras escolhidas...

Ouço o movimento da cabeça, das mãos, do tronco....

Ouço as expressões da face, ouço o elevar das sobrancelhas, o apertar dos lábios, o baixar dos olhos, o arquear dos ombros...

Minha alma em silêncio absoluto...

E devagar, bem devagar vejo a alma do outro surgindo para mim...

Pronto!

Aconteceu!

Agora as essências vão conversar...

A vida se impõe, se expressa.

É só ficar em silêncio para conseguir escutar.

Quando eu consigo, é inevitável um riso interno, muito silencioso, desabrochar...

E num átimo de instante percebo que o outro também estava a exercitar, ele também me captou enquanto eu o estava a captar...

Tão bonito quando acontece...

É conversa de alma com alma...

Nem sempre é assim.

Na verdade, quase nunca é assim.

Nem me espanto mais ao constatar que o dito as vezes é o oposto do não dito que consegui captar...

Por que será?

Sempre fico na dúvida se é porque não sabemos silenciar, ou a nossa própria alma escutar antes de qualquer coisa falar.

Se temos medo de sermos transparentes e por isso há intencionalmente um desejo da essência não expressar...

Ou ainda, ou pior, se simplesmente, não sabemos ou não queremos o outro escutar.

Queria nesses assuntos me especializar...

O Rubem Alves, muito entendido em necessidades da alma, já propôs um curso com esse fim.

Curso de escutatória em vez de oratória.

Uma espécie de especialização em linguagem das essências.

Eu faria esse curso.

Treinar amadoramente não é fácil .

Só contamos com o auxílio dos sensíveis e poetas.

E diante da relevância do tema e das inúmeras dificuldades que percebo ao praticar, concluo que uma formação acadêmica poderia, e muito, auxiliar.

Por que é na essência que a vida realmente está .

Mora na essência aquilo que urge.

O que perenemente me interessa.

O ponto estável entre tudo o que parece se mover, entre tudo o que parece cíclico, entre a dualidade ilusória....

Todo resto é adorno.

Depois que entendi a potência dessa linguagem essencial entre almas já me impaciento quando não a consigo alcançar.

Vejo quanto tempo é perdido, quanto esforço, quantos conflitos, quantas distorções seriam evitadas se apenas com as essências conseguíssemos nos expressar.

Talvez, muitos problemas também possam emergir se apenas a linguagem das essências usarmos para nos comunicar.

Essências cruéis, pervesas, mal ditas podem surgir de duras almas...

Podemos então, até pensar , que seria perigoso se uma alma assim mais dura um curso de linguagem das essências resolvesse frequentar.

Mas não há com o que se preocupar!

Uma alma endurecida pode até, inadvertidamente, um aspecto aleatório da essência do outro captar.

Mas não é possível sustentar esse tipo de conexão sem boa intenção.

Percebo em mim mesma.

Quando oscilo na intenção perco imediatamente com o outro a profunda e bonita comunhão.

O diálogo entre as essências é uma expressão do sagrado, é da ordem divina....

E sendo linguagem universal das deidades é essencialmente boa e intenciona o bem.

Está é uma premissa protetiva a considerar.

Portanto entendo, como seguro, esse tipo de estudo continuar.

Sigo divagando... uma pós graduação strictu sensu em linguagens essenciais, como será?

Terá sub especialidades?

Especialistas em linguagens essenciais amorosas, trabalhistas, espirituais...

Eu me contentaria em ser uma boa especialista nas linguagens essenciais generalistas da vida comum.

Para as minhas necessidades já deve bastar.

Gosto de procurar a essência no cotidiano, no ordinário da vida .

Por entender que no extraordinário o supérfluo já não está, então nada mais há a acrescentar.

É no ordinário que precisamos exercitar.

Curiosa, fico a imaginar qual seria em essência, o maior interesse dos colegas que desejariam esse curso frequentar?

O meu está posto.

Sentido de urgência em viver.

E para acessar o que considero vida só o posso através da linguagem das essências.

Queros menos intermediariamentes e mais finalmentes.

Conexões genuínas e, se consequentemente desconexões genuínas ocorrerem, entendo que é um preço a pagar por estar em processo de formação num curso tão peculiar.

Mas há dois temas em especial que gostaria de com o curso de linguagem em essências aperfeiçoar.

Já introduzi anteriormente o assunto mas se tratando de essências preciso aprofundar.

O primeiro ponto: as vezes durante a prática da linguagem das essências eu pisco.

Sem perceber, desvio o olhar. Me perco. Desconecto e sou invadida pelos meus pensamentos, não ouço mais o que outro está a falar. Começo a julgar.

Quase preciso me gritar: Silencie a sua alma ou não vai escutar a alma do outro que na sua frente quer se expressar!

Deverá haver no curso treinamento para o meu silêncio interno conseguir sustentar...

O segundo ponto: Por vezes consigo o silêncio interno necessário, capto, perscruto.

Mas o julgamento que consegui calar no momento em que estabeleci a conexão não se mantém após a linguagem das essencias finalizar.

Suspeito que talvez me falte a compaixão necessária para fazer bom uso do que da essência do outro eu consegui captar.

Se a compaixao faltar, não haverá a amorosidade necessária ao me expressar. Dessa forma será inútil para o outro a minha habilidade em essências captar.

Agora me ocorre que esse curso de especialização precisará muitas disciplinas contemplar...

Talvez o que eu queira mesmo é em linguagem da compaixão essencial me especializar.

Tatiana Maíta
Enviado por Tatiana Maíta em 12/07/2024
Reeditado em 14/07/2024
Código do texto: T8105709
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