Rosa-lírio

era ‘descabida’, sua pretensão

de um desabrochar diferente

com espádice ereto e vistoso

um sonho sonhado em botão

mas se abriu repolhuda demais

à mercê dum mesmo padrão

em jardim de rosas alinhadas

doía o seu peitinho perfumoso

a sustentar tamanha privação

flor aberta em canteiro oposto

ao santo matiz dirigia oração

pintasse em breve uma saída

tempo de flor não é generoso

já, já cairia em despetalação

quem bem a via, um bem-te-vi

compreendendo sua aflição

arrancou-a do pé em bicadas

e aninhou-a no solo arenoso

da sua ‘escandalosa’ paixão

depois que a hora ficou ruiva

lançou pétalas ao afável chão

uma a uma, como livro aberto

ao esvair da seiva riu gostoso

a pequena vida em aceitação

os lírios lamentaram chorando

e releram sua dor desde então

até que se dobrassem por terra

num plantio mais harmonioso

de seus ânimos em comunhão

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 12/07/24 --

Antonio L
Enviado por Antonio L em 12/07/2024
Código do texto: T8105517
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