DESPUDOR DO VENTO
Quando
cheguei em Salvador
fui acariciado
pelo sopro do vento.
Ele levantou a saia
da moça que descia
a calçada
na Joana Angélica.
Mostrou-me as pernas
torneadas, morenas
e calcinha vermelha
com flores amarelas.
Fiquei paranoico,
não pelas belas pernas
da moça de face ruborizada,
mas pelo vento.
Vento que empurra
as nuvens d’águas,
leves e pesadas,
para desaguarem
lá no Sertão.
Na América, Katrina
destampa casas,
faz voar sonhos
e os segredos
dos porões.
Na Boca do Rio,
sustenta pipas
e movimenta alegrias,
em tardes de sol
e de maresias.
Ele assovia,
entra pelas gretas
e assanha lembranças.
Iça velas
e embala caravelas.
Amo o despudor
do vento.