DESPUDOR DO VENTO

Quando

cheguei em Salvador

fui acariciado

pelo sopro do vento.

Ele levantou a saia

da moça que descia

a calçada

na Joana Angélica.

Mostrou-me as pernas

torneadas, morenas

e calcinha vermelha

com flores amarelas.

Fiquei paranoico,

não pelas belas pernas

da moça de face ruborizada,

mas pelo vento.

Vento que empurra

as nuvens d’águas,

leves e pesadas,

para desaguarem

lá no Sertão.

Na América, Katrina

destampa casas,

faz voar sonhos

e os segredos

dos porões.

Na Boca do Rio,

sustenta pipas

e movimenta alegrias,

em tardes de sol

e de maresias.

Ele assovia,

entra pelas gretas

e assanha lembranças.

Iça velas

e embala caravelas.

Amo o despudor

do vento.

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 07/07/2024
Reeditado em 07/07/2024
Código do texto: T8101977
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