Pássaro cheio de lágrimas
Sou um pássaro de lágrimas que deseja voar,
Que busca destruir gaiolas, e da dor se libertar;
Sou um pássaro de lágrimas que deseja voar,
Almejando, além das casas, a liberdade alcançar;
Sou um pássaro cheio de lágrimas que deseja voar
Por céus azuis por onde possa meu sofrimento gritar;
Sou um pássaro cheio de lágrimas que deseja voar
E entre tantas perdas, num novo ninho irei me achar;
Sou um pássaro de lágrimas que deseja voar
Para rasgar deuses, céus, infernos e o mar;
Sou um pássaro de lágrimas que precisa logo voar
Das senzalas solitárias deste tempo a nos escravizar;
Sou um pássaro de lágrimas que tem sede por voar
Sobre terras áridas onde viver é abraçar ou se afastar;
Sou o pássaro de lágrimas que necessita de voar
Para os braços de uma vida que possa me amar;
Sou o pássaro de lágrimas que almeja veemente voar
Para longe das velhas sombras do passado a chorar;
Sou o pássaro de lágrimas que bate as asas a voar
Pelos cemitérios desse silêncio que tenta me sufocar;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que está a voar
Pelo vazio eterno de um pátria sem nação nem lar;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que plana pelo ar
À procura de um deus que esteja em nenhum lugar;
Sou o pássaro de lágrimas que mergulha no voar
Para quebrar os grilhões que desejam minhas asas cortar;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que continua a voar
Para enlaçar meus irmãos que me esperam além de lá;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que anda sim a voar
No cume da morte busco o sol da minha vida brilhar;
Sou o pássaro repleto de lágrimas que dança ao voar
Entre o paraíso de cantar e o Hades infernal de se calar;
Sou um pássaro coberto de lágrimas que ama voar,
Querendo o mar e o amar de ouvir e sentir ou emudecer e se apagar;
Sou um pássaro cheio e lágrimas que continua a voar
E procuro a chave do mistério que abra a porta de viver e amar;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que reluz ao voar
Para encontrar na escuridão a luz a me orientar;
Sou o pássaro cheio de lágrimas que chora ao voar
E, no silêncio profundo, quero o meu pranto gorjear;
Sou um pássaro cheio de lágrimas que voa tão veraz,
Para contemplar, tocar e habitar, quiçá, o bosque da paz!